Era uma tarde tranquila. Quase Primavera.
Nem prima, nem Vera, mas florida!
Campos cor de rosa,
Ipês universais. Desconhecia tantas cores.
No horizonte, o sol raiava.
De repente, caiu o céu.
Chovia muito, mas não me importei.
Lavei a alma. Logo parou...
Então,
Um arco íris lindo se formou,
Perto do sol que voltara a raiar.
Arco este, metade.
Como diria a matemática: 180 graus.
A roupa secou, aos poucos.
Pude sentir a mudança em meu corpo,
Gotas evaporando.
E lá fiquei, mudando.
Vivi. Aproveitei o simples para ver.
Agradeci e voltei a sorrir.
Num piscar de olhos, me lembro muito bem, acordei.
Abri a janela e tudo estava cinza. Ventava e chovia.
Não entendi muito bem.
Pensei:
"Alguém morreu e foi viver como eu em sonho.".
O telefone tocou.
Atendi. Era o meu pai.
A nossa pequena faleceu.
"Viveu de tudo o que pode, mas foi embora como num piscar de olhos..."
Essa foi a frase mais marcante que pude compreender entre o soluço que me agoniava.
Ela era saudável, moleca danada! Menina bondosa, de muitas amizades.
Menina mulher,
Não queria crescer. De fato, não cresceu muito.
Seu sonho era sonhar!
O que ela acreditava no fundo da alma era a criança que lá então, residia.
Uma criança sorridente. Sem problemas, responsabilidades.
Conseguia voltar no tempo...
E meu pai chorava.
Dizia:
"Filha, por quê?"
Porque... (estava a elaborar uma resposta confortante...)
Emudeci.
Então eu disse:
"Pai, a vida é assim. Mutação. Energia..."
Prossegui:
"A culpa não é sua, mas eu amadureci! Deixei de viver os seus desejos e cá estou para viver os meus."
Sem som ao fundo avistei a janela e, através do vidro percebi:
Neve.
Ao quebrar o silêncio, perguntei:
"Como está o tempo por aí?"
E ele disse:
"Já choveu, fez sol, até arco íris apareceu. Os ipês estão floridos, mas ainda estamos no outono..."
Compreendi.
Sonho que é sonho,
Realidade pensada.
Sonho realizado,
Objetivos traçados. Metas alcançadas.